24 dezembro 2009

Como rezam os versos da canção


O homem é um sujeito inquieto por natureza - hiperativo. Por isso vive por aí fazendo de tudo, e a vida em sociedade é isso mesmo: um permanente canteiro de obras, das abstratas ao concreto armado... construção. O homem constroi e destroi para depois constriuir novamente desde tempos imemoriais, das pirâmides do Antigo Egito às modernas torres que arranham os céus das metrópoles. Contruimos sobre ruínas e depois nos afundaremos nelas para que o homem do futuro - possivelmente o moderníssimo homem de filé mignon, edifique a sua civilização.

O canteiro de obras por ali era grande - não saberia quantificar em metros ou até em hectômetros quadrados a dimensão superficial pois me é alheia tal capaicidade, como é alheia a uma criança a ideia abstrata do que venha a ser um Estado. Margeava-o uma importante avenida da cidade. Por ela passam as canaletas do famoso expresso curitibano, que emancipou o reduto do vampiro à posição de terceira melhor cidade do globo terrestre. E ouvia-se que a intensão era edificar ali um extenso conjunto habitacional, confortável aos futuros moradores e severo às mãos que lhe alisam as arestas. Dizia-se que o homem que jazia esparramado no asfalto quente, cozinhando nessa imensa frigideira, era um operário que ali trabalhava, um entre tantos... um exército de "suor e lágrimas". A vida lhe escorrendo pela cabeça, chegava-lhe aos pés e tomava toda a estrada. O imenso expresso silencioso, vazio por dentro e por fora, terrível acaso, piscava as lâmpadas. Jogaram-lhe um pedaço de pano à face para lhe incubrir a identidade e preservar sua dignidade. O choro dos companheiros era um sussurro distante. Eram as sirenes da ambulância se aproximando... eram as luzes do camburão do IML encostando.

Um dentre eles puxa uma oração - quem me dera ter um espírito assim, de fortaleza em momento de dor aguda no coração. É... Foi como rezam os versos da canção.