24 agosto 2009

Foi-se John Hughes


Não é bem da minha época - mas seus filmes respingaram na minha geração também. Faleceu, assim de repente, o diretor John Hughes aos 59 anos, enquanto caminhava com seu cachorro pelas ruas de Manhattan, em visita à família, vítima de um ataque cardíaco fulminante no último dia 6. São dele aqueles filmes teen cult que povoaram a década de 80 e a sessão da tarde em meados de 90 por aqui na terra da Derci Gonçalves. Pra mim, o melhor filme (melhor? Sim, por que eu era fã de toda essa tolice, talvez ainda seja) é The Breakfast Club, ou Clube dos Cinco (como ficou traduzida a película aqui na terra da Derci Gonçalves). Aqueles 5 jovens tolos em detenção por causa de coisas estúpidas que fizeram, são obrigados, cada um, a fazer uma redação, refletindo sobre suas condições. Cada um encerra um estereótipo juvenil - pois é assim mesmo que a criançada se vê no colégio: tem os nerds, as patricinhas, os atletas, os durões e aqueles que são difíceis de se enquadrar... a eles hoje nós concedemos a denominação "EMO".

A piazada da minha época deve se lembrar de "Curtindo a Vida Adoidado" - como passava essa porra na TV, meus deus... até enjoar. Ferris Bueller só queria matar aula e curtir a vida com seus amigos. Nossa! Que veia de inocência alimentava essa época. Os sonhos transgressores da classe média de ontem são mais do que infantis hoje. Hoje, a galera toda está literalmente na zona se fuden... se coçando no suor do funk.

E quem não assistiu " Mulher Nota 1000"? Nem me lembro direito do filme - só da garota rsrs -, mas sei que já assisti. Enfim, seus filmes se direcionavam aos adolescentes e eles os recebiam muito bem. Hughes tinha o dom da trama simples e grudenta como chiclete, banal e rasa - aos botequeiros o filósofo Zeca Pagodinho e aos adolescentes perdidos o filósofo John Hughes!

Era uma tarde estúpida de sábado quando estava passando "O Clube dos Cinco" na TNT, vejam só. Eu sem nada pra fazer decidi ver o filme pela metade. Bom, aquele momento do filme já denunciava como havia de ser o começo. Fui assistindo, assistindo, e gostando e me grudando e no final... pô, bacaaaaana esse filme! (Quem quiser, eu tenho uma cópia). Só a redação final - eles acabaram fazendo uma só - ficou uma merda. Se o CDF da turma foi capaz de fazer um textinho vagabundo daqueles, então o resto era um bando de Neandertal. E eu me senti um Einstein na adolescência...

Posso ouvir o próprio Hughes cantando de algum lugar: dont' you, forget about me...!
Pode deixar Hughes, assim como clamava a música tema de The Breakfast Club, não nos esqueceremos de você!

16 agosto 2009

O Velho do All Star





Esses dias aí eu andando pelas ruas e um velho meio corpulento à minha frente caminhava. A gente se encontrava nas esquinas - ele chegava primeiro e esperava o desfile dos carros e então eu o alcançava. Vencida a travessia da rua, ele retomava a ponta para depois nos encontrarmos novamente na outra borda. E foi assim por algumas quadras, até que passadas algumas, em alguma esquina dos confins do Alto da XV, ele parou o andar e com o olhar mirou o rapazote que mais uma vez o encontrava - desconfiou. Balançou os fios daquela horrenda barba branca... branca não, mais grisalha. Continuou. Que podia ele fazer? Talvez o destino daqueles dois passasse pelos mesmos lugares naquela tarde de inverno, talvez ponderasse que o receio era mais do rapaz do que dele mesmo, ele sim, uma figura aterrorizante. Assim prosseguimos nosso caminho... até que eu percebesse um detalhe inútil e que é a centelha central desse humilde escrito: o velho trazia aos pés um surrado all star negro de cano alto. Nada demais não é? Não sei porque parei a pensar naquilo. Já vi tantos por aí com esse confortabilíssimo tênis - que molda o pé mais do que nenhum outro à calçada fina das metrópoles - , tantos, até eu, porque há mais all stars no mundo do que pés pra calçar. Mas aquele velho me chamou a atenção: não era só o tênis, mas o modo inteiro como se vestia, em trapos de jeans e jaqueta, como se ele fosse uma ponte cultural direta para os anos 70. O boné fudido, escondia bem o cabelo ensebado de fios longos que lhe davam na nuca. Carregava uma sacola de supermercado - pouca coisa dentro, devia morar sozinho. Se eu gritasse "gabba gabba hey!", o que ele faria? Pularia no meu pescoço pra gritar "I wanna be sedated!"?

Engraçado como são as coisas. Me lembro de um cara do colégio, grandalhão, a face uma jazida de espinhas, antipático, psicótico e agressivo - não deixava de levantar um na hora do recreio em que todos se revezavam pra jogar uma bola - que vivia gritando "gabba gabba hey, caralho!", como se fosse grito de guerra e de morte, um hino à liberdade da juventude, e que corria pelos corredores tocando eternamente um baixo imaginário. Naquela época eu era moleque demais, não entendia nada e por hora me entretinha mais em coisas infantis e boas como Doug (até hoje rsrs..) e outras estúpidas e alérgicas como Digimon, enfim...

Mas o tempo correu e chegou a época em que passei a ouvir os Ramones e toda uma miríade de bandas, primeiro as punks e depois as de Hard Rock e Heavy Metal. A rebeldia à flor da pele, explodindo com as espinhas do umbigo. Foi uma época bacana e da qual tenho saudades. Todo mundo andando de preto fingindo ser o mocinho mal - sim, porque na verdade éramos todos ingênuos e aqueles que portavam as camisas do Angra, do Shaaman e do Sonata Arctica, nessa ordem, eram os mais ingênuos! Crianças destelhadas que vagavam pelo centro...

Pensei naquele senhor... ele deve ter vivido tudo isso na intensidade real do momento, do momento em que o Rock se radicalizava em fúria, ou talvez não. No nosso país (no mundo?), todo jovem, os revolucionários de esquerda, os da contra-esquerda, os roqueiros avisados, os desavisados, os despossuídos e os enriquecidos se vestem da mesma forma numa convenção social veladamente pretendida, porque o jovem não quer ser como ninguém, quer ser ele mesmo e acaba sendo como todo mundo. Acho que minha geração só buscou se agarrar àquilo que lhe desse uma identidade, mas tenho que admitir que não foi uma geração autêntica. Copiamos o que aconteceu nas décadas anteriores...

O velho finalmente tomou seu rumo, um barzinho de esquina que formigava ao som do The Sex Pistols. Ao entrar, o velho - que na verdade era mais acabado do que velho - encontrou um amigo e se abraçaram fraternalmente. Ele logo parou e gritou: "Mas que porra é essa que tá tocando? Muda essa merda!". Algúem prontamente atendeu. Eu já no final da esquina, depois do breve silêncio musical, tomando meu caminho, pude ouvir, a voz meio anazalada: Você meu amigo de fé meu irmão camarada...